Banda Sonora para uma Vida
Published sábado, novembro 27, 2004 by Rui Vieira | E-mail this post
Já há muito lhes queria falar da banda sonora da minha vida.
Não seria capaz de julgar a minha vida um filme, embora considere que os melhores filmes são feitos dos pequenos nadas, de fragmentos de felicidade, de provações e de ilusões. Mas não é essa a minha pretensão.
Na minha banda sonora jogo tudo o que sei.
Amor/Ódio - Conquista/Derrota - Harmonia/Conflito. Jogo com o jogo de oposições. Contrastes que denotam a imperfeição que sou.
A minha banda sonora é um crescente rítmico. É um caudal de sensações nas quais eu me banho e de onde trago presas às pontas dos dedos as melhores recordações. É um rio de experiências. Como a nascente onde colho as primeiras impressões, como o leito imperfeito por rápidos e quedas onde sofro constrangimentos, como o estuário onde sedimento os excessos das provações, como a foz onde perco a minha individualidade e me fundo num mar de multidões.
Assim é a minha banda sonora. Produto e reflexo de mim mesmo. Uma partitura inacabada onde as notas têm vontade própria e nem as pausas eu controlo.
Esta minha banda sonora é um pouco como a tua, a tua ou a tua. Mudam-se os compassos, os instrumentos ou somente o tom; também tu tens música e és musical!
É assim que vejo a minha banda sonora. E digo vejo e não ouço, porque a minha banda sonora é visual. É uma tela ficticia de luz laranja-ténue, emoldurada por rasgos de azul e negro onde vejo tudo o que me rodeia. Na maior parte do tempo é palco para dois actores, onde além de mim estás tu.
A minha banda sonora nem é comédia nem trágica. Não a pretendo catalogar. Quero apenas manter os actores e não deixar de a ouvir entre o
cinema e o
paraíso. E já agora, se possivel, ver sempre esse teu sorriso.