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Receita de ano novo


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de Janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade


Silêncio


((clique para quebrar o silêncio...)

Não sou um eremita que anseia por viver longe da sociedade. Gosto das pessoas, gosto do rebuliço das cidades, das luzes de néon a guiar-me os passos e até da música alta que irrompe pelos timpanos e se instala nos meus sentidos.
Mas, tal qual o eremita, gosto do Silêncio.
O Silêncio tem tanto de inquietante como de reconfortante. Se para mim é um amigo no qual me recolho e escuto os meus próprios pensamentos, para os outros é um desafio. Quando alguém me responde com Silêncio, logo tento adivinhar o seu significado.
E essa é a magnificiência do Silêncio. Quantas mais pessoas forem confrontadas com o Silêncio, mais diverso será o seu significado.
Perante o Silêncio, projectamos as nossas ansiedades, as nossas dúvidas, receios e expectativas. Enquanto o Silêncio dura criamos um mundo no qual tudo ocorre de acordo com o objectivo que perseguimos. É quando ele desaparece que despertamos para a realidade e somos confrontados não só com o nosso próprio querer, mas também com o do autor do Silêncio... e aí, quebra-se o encantamento. Já não é mais uma situação ídilica, um “momento para recordar”, um perpétuo bem-estar. É o prosseguir da acção, o beijo acalorado ou o subtil acenar em jeito de despedida.
Por isso prefiro o Silêncio. Enquanto ele permanece, também o sonho lá está... e com ele, as ilusões e as desilusões
!

Rui Vieira

Como sempre o teu comentário é importante. E tu, gostas do Silêncio?



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