LETRAS que geram palavras PALAVRAS que criam frases FRASES que dão sentido à Vida



Ai quem me dera


Ai quem me dera, terminasse a espera
E retornasse o canto simples e sem fim...
E ouvindo o canto se chorasse tanto
Que do mundo o pranto se estancasse enfim

Ai quem me dera percorrer estrelas
Ter nascido anjo e ver brotar a flor
Ai quem me dera uma manhã feliz
Ai quem me dera uma estação de amor

Ah! Se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem ser casais

Ai quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afins
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim

Ai quem me dera ouvir o nunca mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E finda a espera ouvir na primavera
Alguem chamar por mim...


Vinicius de Moraes
in Poesia completa e prosa: "Cancioneiro"


Banda Sonora para uma Vida


Já há muito lhes queria falar da banda sonora da minha vida.
Não seria capaz de julgar a minha vida um filme, embora considere que os melhores filmes são feitos dos pequenos nadas, de fragmentos de felicidade, de provações e de ilusões. Mas não é essa a minha pretensão.
Na minha banda sonora jogo tudo o que sei.
Amor/Ódio - Conquista/Derrota - Harmonia/Conflito. Jogo com o jogo de oposições. Contrastes que denotam a imperfeição que sou.
A minha banda sonora é um crescente rítmico. É um caudal de sensações nas quais eu me banho e de onde trago presas às pontas dos dedos as melhores recordações. É um rio de experiências. Como a nascente onde colho as primeiras impressões, como o leito imperfeito por rápidos e quedas onde sofro constrangimentos, como o estuário onde sedimento os excessos das provações, como a foz onde perco a minha individualidade e me fundo num mar de multidões.
Assim é a minha banda sonora. Produto e reflexo de mim mesmo. Uma partitura inacabada onde as notas têm vontade própria e nem as pausas eu controlo.
Esta minha banda sonora é um pouco como a tua, a tua ou a tua. Mudam-se os compassos, os instrumentos ou somente o tom; também tu tens música e és musical!
É assim que vejo a minha banda sonora. E digo vejo e não ouço, porque a minha banda sonora é visual. É uma tela ficticia de luz laranja-ténue, emoldurada por rasgos de azul e negro onde vejo tudo o que me rodeia. Na maior parte do tempo é palco para dois actores, onde além de mim estás tu.
A minha banda sonora nem é comédia nem trágica. Não a pretendo catalogar. Quero apenas manter os actores e não deixar de a ouvir entre o cinema e o paraíso. E já agora, se possivel, ver sempre esse teu sorriso.


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