LETRAS que geram palavras PALAVRAS que criam frases FRASES que dão sentido à Vida



Contigo estarei, mulher


Contigo estarei, mulher
na carne de cada insónia.

Tornaste negro o sol
que o teu sal já não lambe.

Só a luz dos teus dedos
o podia pentear
e o peso dos teus peitos
meu peso iluminar.

Mas tu, mulher, és melhor:
mesmo nova pareces lua,
mesmo cheia pareces nova,
mesmo escura és todo o sol.

Quando eu tiver insónias, mulher
farei de ti farol.

de Manuel Cintra
in "não sei nunca por onde"


Aniversário Dose Dupla


A 19 de Janeiro de 2002 nascia um projecto radiofónico sedeado em Espinho a emitir em 88.4 FM, na então designada Rádio Costa Verde. Na altura, António Albuquerque, Arménio Lopes e Rui Vieira, juntavam-se com um esboço de trabalho muito simples em que a paixão pela música “vanguarda” dos anos 80 era o mote do “3 à Mistura”.

O padrinho radiofónico António Albuquerque assegurava então o comando técnico, delegando a responsabilidade das rubricas “Triplex” a cargo de Arménio Lopes e a “Sala de Espera” em Rui Vieira.

Ao fim de ano e meio de emissões anuncia-se o término do “3 à Mistura” com a saída (que ainda hoje deixa saudades) de Arménio Lopes, essa tímida voz que muito nos ensinou sobre os Smiths, Joy Division e muitos, muitos outros.
No entanto o bichinho da rádio estava instalado em António Albuquerque e Rui Vieira que dão sequência ao projecto inicial com o actual Dose Dupla. Com a experiência adquirida no “3 à Mistura” redesenha-se o programa com novas rubricas e responsabilidades de acordo com a sensibilidade de cada um destes intervenientes.

A “Sala de Espera” transforma-se em “Sopa de Letras” e o espaço que pretende dar força à importância da palavra escrita ganha uma nova identidade com a procura cada vez mais exigente de textos de inegavel beleza estética. A anterior “agenda cultural” onde se dão pistas para o aproveitamento dos tempos livres (teatro, cinema ou música) muda para o pomposo nome de “A cereja em cima do bolo”; sendo estas rubricas assinadas pr Rui Vieira.

António Albuquerque, por seu lado, além do alinhamento musical no qual previligia a música dos anos 80 na 1ª hora de emissão e desde os 90 até à actualidade na 2ª hora, cria uma nova rubrica “No outro lado da música”, por onde já desfilaram nomes como Madredeus, Madona, Carlos do Carmo, Massive Atack, entre outros.

O Dose Dupla torna-se mais ambicioso e decide arriscar nas entrevistas em directo. Não podendo nomear todas, não é possivel deixar de destacar a presença de Regina Novais e Cláudia Novais do grupo de teatro “Maria 4”, a qual virá a revelar-se fundamental no aumento qualitativo do programa; a visita de Eva com uma irreverência aliada aos sólidos conhecimentos musicais; Nuno e Teresa com a sua visão poética e musical, que nos deixaram uma semente que na melhor oportunidade ainda irá germinar; João Cordeiro dos Houdini Blues; e, Hugo e Zé do projecto Ugo.

Ousa-se ainda nas edições especiais. Nestas emissões ao longo da 2ª hora de emissão já se destacaram bandas como os Xutos&Pontapés, GNR, ou a vida do semanário BLITZ.

Fruto da entrevista ao grupo “Maria 4”, nasce uma nova estrela no Dose Dupla. Cláudia Novais apaixona-se pelo projecto, auxilia incessantemente nas pesquisas para as diversas rubricas do programa, contribui com novas perspectivas musicais (ouvir exemplo de “Somewhere Over the Rainbow” nas versões de Judy Garland e Blixe Bargeld) e aceita o desafio de dizer em rádio os contos que tanto encantam no seu blog, na nova rubrica “Na curva do Arco-Irís”.
Entretanto, também a própria rádio evolui. Muda de designação para XL – Radio Televisão, cria o seu próprio site e motiva o Dose Dupla a criar o seu próprio blog, com este humilde Sopa de Letras. Neste parágrafo não podem faltar as palavras de apreço a Alberto Quintas, Né Vasco, Paula Coutinho, Alexandre Otelo e todos os demais colegas que connosco têm colaborado.

A finalizar este texto, o agradecimento especial a quem de facto dá vida a este projecto: todos vós que nos escutam ou que passam por este cantinho, motivando-nos semanalmente para fazermos mais e melhor!

Dose Dupla


GNR




GNR
: Pós modernos
Música: Rui Reininho ; A. Soares ; Tóli César Machado ; Jorge Romão
Letra: Rui Reininho
In: "Psicopátria", GNR 1986
Carlos Ilharco



PÓS-MODERNOS

...Depois da V2 DDT PBX
Ketchup K/7 Kleenex Kitchnet Duplex
Twist again colourfull wonderfull
Chegou o T2-T4 c/garagem pró P2 turbo sound disco sound discussão?
Video-Club joy stick midi high-tech squash & sauna
Compact D (compre aqui?)...

Ser Mãe era a aspiração natural de todo o homem moderno
ser o melhor é normal para os novos pobres deste colégio interno
ter medo é a pulsão fundamental do criador & artista
estar sóbrio é continuar permanecer positivista

---E dantes as máquinas estavam sempre a avariar....

Mas com uns pós modernos nada complicados
sentimo-nos realizados
Ah! Os pós modernos agarram a angústia
e fazem dela uma outra indústria
com os pós modernos nunca ganhamos
mas tambem nada investimos


Escolher uma entre tantas letras dos GNR não é propriamente fácil. No destaque que o Dose Dupla fez à banda portuense, seleccionei esta letra por me parecer bem emblemática do seu percurso.
Rui Vieira
 Posted by Hello


Quase


Um pouco mais de sol - eu era brasa.
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me esse golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada, foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser-quase, dor sem fim...
-Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asas que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, em fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi

...............................................................
...............................................................

de Mário de Sá-Carneiro


Ítaca


Quando começares a tua viagem para Ítaca
anseia por que o caminho seja longo,
cheio de aventuras, cheio de conhecimento.
Dos Lestrígones e dos Ciclopes,
do irado Posídon não tenhas medo,
nunca encontrarás coisas dessas no teu caminho,
se o teu pensamento se mantiver elevado, se um distinto
sentimento o teu espírito e o teu corpo tocar.

Os Lestrígones e os Ciclopes,
o feroz Posídon não encontrarás,
se não os carregares na tua alma,
se a tua alma não tos apresentar.

Anseia por que o caminho seja longo.
Que sejam muitas as manhãs de Verão
que com tal satisfação, com tal alegria,
entrarás em portos pela primeira vez;
pára em mercados fenícios,
para adquirires as boas mercadorias,
madrepérolas e corais, âmbares e ébanos,
e perfumes inebriantes de todos os tipos,
a maior quantidade de perfumes inebriantes;
visita muitas cidades do Egipto,
para aprenderes e aprenderes dos sábios.

Mantém Ítaca sempre no teu pensamento.
A chegada aí é o teu propósito.
Mas não apresses de maneira nenhuma a viagem.
Melhor que dure muitos anos;
e que chegues velho à ilha,
rico com tudo o que ganhaste no caminho,
não esperando que Ítaca te dê riqueza.

Ítaca deu-te a bela viagem.
Sem ela nunca terias começado.
Mas não tem mais nada para te dar.

E se a encontrares pobre, Ítaca não te enganou.
Assim que te tornaste sábio, com tanta experiência,
terás já percebido o que as Ítacas significam.

Konstandinos Kavafis, 1910
Tradução de Carla Hilário Quevedo


BLITZ


Aqui, neste espaço do Sopa de Letras, tenho de fazer um desvio de encontro às origens do Dose Dupla.
Aos 13 anos de idade, puto traquina que ia diariamente ao quiosque ao lado do liceu comprar 1 SG-Ventil (avulso, isso mesmo), cumpria semanalmente uma visita ao mesmo quiosque para um ritual quase sagrado. Se lhes disser que era à 3ª fª, talvez muitos adivinhem o objectivo desta visita.
Sempre à 3ª fª, lá desviava uns cobres (que agora não sei precisar, embora julgue que seria à volta de 40$00) para adquirir o exemplar semanal do BLITZ.O BLITZ não era somente um canal de informação. Era também uma questão de atitude. Se por um lado colhia informações sobre o melhor e alternativo produzido no estrangeiro ou apreendia aquela estranha sigla: MMP - capaz de juntar num só rótulo nomes como Rui Veloso, GNR, Taxi, UHF, Xutos & Pontapés ( e é melhor parar por aqui, não só pela extensão da lista, mas também pelos anacronismos) - contribuindo assim para a minha educação musical; por outro lado, o BLITZ incutia irreverência. Os exageros (ou não!) dos Mão Morta, os bastidores e dificuldades nas tournées dos Xutos ou a aparente sobriedade do António Manuel Ribeiro, eram exemplos de que havia um longo e árduo caminho para se atingir metas. No fundo o BLITZ dizia-nos nas suas páginas que era permitido sonhar, e como isso é importante na adolescência!
Esta semana o BLITZ lançou nas bancas a edição comemorativa de 20 anos de existência. Já não é o mesmo BLITZ que deixa as mãos sujas quando o "devoramos", mas é o mesmo que, tal como antes, cumpre um serviço público. Felizmente este ao contrário do "Acontece", não precisa do aval de um ministro pródigo em cálculos de viagens à Lua, mas incapaz de diferenciar Sinead O'Connor da Cantora Careca de Ionesco. Precisa no entanto de leitores, e finalizo com um agradecimento e felicitação ao património humano e intelectual do BLITZ.
BLITZ nº 1 Posted by Hello
(no site procurem assinaturas, e se a bolsa o permitir, façam também vós próprios serviço público).


    ddupla@hotmail.com

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