Não sei porque diabo escolheste
Janeiro para morrer: a terra está tão fria.
É muito tarde para as lentas
narrativas do coração,
o vento continua
a tarefa das folhas:
cobre o chão de esquecimento.
Eu sei: tu querias durar.
Pelo menos durar tanto como o tronco
da oliveira que teu avô
tinha no quintal.
Paciência, querido, também Mozart morreu.
Só a morte é imortal.
Eugénio de Andrade
in Poesia, p. 540, Fundação Eugénio de Andrade, 2000P.S. Nesta homenagem ao Poeta, junto a mágoa pelo companheiro da sueca que também esta semana perdi.