Um homem não tem tempo na sua vida para ter tempo para tudo.
Não tem momentos que cheguem para ter momentos para todos os propósitos.
Eclesiastes está enganado acerca disto.
Um homem precisa de amar e odiar no mesmo instante,
de rir e chorar com os mesmos olhos,
com as mesmas mãos atirar e juntar pedras,
de fazer amor durante a guerra e guerra durante o amor.
E de odiar e perdoar e lembrar e esquecer,
de planear e confundir,
de comer e digerir o que a história leva anos e anos a fazer.
Um homem não tem tempo.
Quando perde procura,
quando encontra esquece,
quando esquece ama,
quando ama começa a esquecer.
E a sua alma é erudita,
a sua alma é profissional.
Só o seu corpo permanece sempre um amador.
Tenta e falha, fica confuso,
não aprende nada,
embriagado e cego nos seus prazeres e nas suas mágoas.
Morrerá como um figo morre no Outono,
Enrugado e cheio de si e doce,
as folhas secando no chão,
os ramos nus apontando para o lugar onde há tempo para tudo.
Yehuda Amichai (1924-2000), poeta israelita
Este foi o meu pequeno tributo a alguém muito querido que agora tem tempo para tudo.